FRANCE GRIPP (Francirene Gripp de Oliveira) — Nasci em Governador Valadares, MG, em uma rua denominada Castro Alves, e logo descobri o orgulho deslavado de ser esse endereço favorito, marcado pela poesia. A paisagem do vale do Rio Doce, onde primeiro indaguei a ordem íntima das palavras, foi-me pródiga em apelos e afetos. Desde então, o calor e o gelo das paixões assinalaram os desejos, e o que se impõe a ser escrito, tenho tentado. Lá nasceram também outros sonhos, minhas filhas e filhos, as quatro edições luxuosas da literatura de que somente a vida é capaz. Atualmente, resido em Belo Horizonte, onde em 1994 publiquei Eu que me destilo, seleção de poemas. Em 1998, uma pequena ode, Vinte Lições, foi publicada pela Editora Dimensão. E contos, poemas e crônicas participam de coletâneas diversas. Em 2002, recebi um presente precioso, Luanaluz, o disco do compositor Basti de Mattos, em que seis poemas são parceiros de suas belas canções. Fora do expediente literário, leciono leitura e produção de textos em língua portuguesa, com muito prazer, com certeza. Mas quero mais é poesia.SECO
© FRANCE GRIPP
A primeira chuva, a primeira
traz o poeta e seus desertos calcinados
os sentidos
queimam
os olhos e os desejos do poeta
lá, onde a areia se derrama
e voluteia, mar sem água
inesgotável
burburinho seco
para suas mãos sem asas.
O ser, esse deserto ilhado
ilha imensa, atônita
fustigada
tormentos e ressacas
vozes
impactos, ondas estrondosas
primeiro e último porto
e naufrágio.

















