POETAS DO BRASIL

Blog para divulgar poetas brasileiros e estrangeiros que têm participado das atividades do Congresso Brasileiro de Poesia, realizado anualmente na cidade de Bento Gonçalves/RS, sempre na primeira semana de outubro

sexta-feira, dezembro 08, 2006

LILIA DINIZ – Maranhense radicada em Brasília, poeta e atriz com grande participação no movimento cultural da capital federal. Fã incondicional de Cora Coralina, também canta em seus versos a pureza do homem do interior. Defensora do folclore e dos repentistas nordestinos, faz muito sucesso nas escolas de Bento Gonçalves em suas participações no Congresso Brasileiro de Poesia. Dois livros publicados: “Babaçu, Cedro e outras poéticas em Tramas” e “Miolo de pote da cacimba de beber”.


Quero continuar
andando descalça
pela terra seca encharcada de
cantoria, repentes, emboladas...
Sentindo as artérias dos rios
pulsarem ao som dos tambores
do maracatu, do bumba-meu-boi
do cacuriá, tambor de crioula...
Conversando com a velha sucupira
que perfuma meus cabelos em flor,
vendo os ipês com seus versos serenos
abençoando meus dias.
Não meu irmão!
não deixe que me privem
de sentir desejo e cheirar
cada olho que me arrebatar,
beijar cada boca que desejar,
olhar o céu e chorar,
tocar estrelas e gozar,
andar nua e dançar.
Se isso for loucura amado,
diga ao menos que me deixem
cantar com as cigarras
e explodir em sinfonia...
Só a ti confio minha loucura!

© LILIA DINIZ




ROSSYR BERNY - gaúcho de São Gabriel, reside em Porto Alegre desde 1973. É jornalista e Professor, com mestrado em Teoria da Literatura.
Dezessete livros livros de poemas publicados e o romance-histórico “Entreguem o matador à família do morto – Brasil 500 D’anos”. Neste ano publicou a antologia poética “Construtores de precipícios”, traduzida ao Francês e ao Espanhol, além dos livros “Amor tsunami” e “Vê-las à luz de velas”. Também é do grupo de poetas pioneiros do Congresso Brasileiro de Poesia, no mágico ano de 1990, quando tudo começou. Tem atuação marcante dentro da história da Casa do Poeta Riograndense.


DOS HOMENS QUE SOU

© ROSSYR BERNY

dos homens que sou
o menos humano
lambe as feridas da criança pobre
para que adormeça
dos homens que sou
o mais pacífico
faz greve de fome por liberdade
(vendado no meio do trânsito intenso)
dos homens que sou
o mais escuro
incendeia o planeta com as luzes todas
que os injustos apagaram até aqui
dos homens que sou
o mais precário
é operário de dezoito horas diárias
(mas dono das chaves da justiça final)
dos homens que sou
o menos amoroso
é todo tão teu
que será até depois
de nem eu mais ser meu

II

dos homens que ainda serei
o menos justo já arquitetaInfalível
a multiplicação dos pães e dos peixes
para que a maior vitória
seja sempre a igualdade
Entre os homens de boa vontade



MARILU DUARTE – Gaúcha de Jaguarão, é poeta, contista, cronista e fotógrafa. Possui Licenciatura em História e o Curso de Letras. Atualmente é acadêmica de Direito. Diversos livros publicados, entre eles: “Tente, Crie e Invente”, “Eu, Você e o Universo”, “Minha Terra, Minha Gente”, “Tudo por amor”, “Amor sem fronteiras” e “Nasce um poema”. Integra diversas entidades culturais e participou de dezenas de antologias em poesia e prosa. Realiza periodicamente exposições fotográficas destacando as belezas de sua cidade, inclusive no exterior. Além de participar do Congresso Brasileiro de Poesia, tem integrado as caravanas culturais do Proyecto Cultural Sur a diversos países.


ENTREGA

© MARILU DUARTE

Bebi em teus olhos
as lágrimas sofridas,
supri tuas lacunas,
fiz-me encanto
e com margaridas
semeei em teu pranto
o bem-me-quer da vida.

Decifrei enigmas
e sem medo me entreguei
na ânsia da descoberta.

Cantei-te uma canção de ninar
e te embalei em meus braços
desejosos de um abraço
e te fiz despertar.

Submergi no teu corpo,
sussurrei ao teu ouvido
e despertei o vulcão
tanto tempo adormecido.

Fui passado, presente e futuro
e te amei, te amei muito,
eu juro.

Sorvi da lua todo o seu encanto
e, tomada de espanto,
fiz-me mulher.

Cobri de estrelas o teu olhar
e, se ainda for preciso,
descerei ao inferno ou paraíso
para, novamente, renascer das cinzas
no teu abraço e no teu sorriso.


LUIZ DE AQUINO – goiano de Caldas Novas, integra o seleto grupo de poetas com mais participações no Congresso Brasileiro de Poesia. Além de poeta, é contista e jornalista, com diversos livros publicados, entre eles: “O cerco e outros casos”, “Sinais da Madrugada”, “De mãos dadas com a lua”, “Canto de Amar”, “Menina dos olhos”, “Isso de nós”, “Razões da Semente”, “A noite dormiu mais cedo”, “Sarau” e “As uvas, teus mamilos tenros”. Diversas premiações, entre elas o “Cora Coralina”, da Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico.


NÓS, POETAS

© LUIZ DE AQUINO

Repositórios de insultos
e estímulos, ou de que mais apelidem
clamores de ouvintes,
de poetas,
de leitores.
Adormecemos em nós imagens novas,
palavras velhas,
excitações momentâneas, pedras
de se edificar o tempo
até porque o tempo
semente de suaves copas,
frondes grávidas de ternas sombras.

Somos seiva de fartas florestas,
pastos de estelares insetos,
fontes de dessedentar noctívagos.

Poetas somos alma eterna
e corpo vívido de encantar sereias,
domar demônios,
amansar angélicos fantasmas
de nossas não menos etéreas
fantasias do quotidiano.

(Talvez desvios das certezas falsas,
de condutas ditas certas.
Apesar dos dias).