POETAS DO BRASIL

Blog para divulgar poetas brasileiros e estrangeiros que têm participado das atividades do Congresso Brasileiro de Poesia, realizado anualmente na cidade de Bento Gonçalves/RS, sempre na primeira semana de outubro

segunda-feira, agosto 06, 2007


BETH ALMEIDA — nascida e criada em Belo Horizonte, é arquiteta de interiores por convicção, artista plástica por ousadia e poeta por pretensão. Se auto-define intensa e possuidora de uma alma feliz porque a vida tem lhe dado lucros. Em sua arte e poesia predominam os sentimentos e as emoções, nas quais se remete de cor e corpo às lembranças, desejos mal realizados e suspiros bem dados. Já morreu sete vezes e ainda assim acredita que a vida é uma possibilidade. Publica seus poemas e prosas na web:


ou amnésia, ou ressaca
— a escolha é pessoal e intransferível

© BETH ALMEIDA

esqueça em cima da mesa do bar
as revelações de alguns flashs
as etiquetas das nossas costuras
a incompetência do que se chama amor

dê de gorjeta ao garçon
o soluço das muitas neuras
as respostas que nos consomem
as mordaças que nos diluem

a esperança que exorciza
o personagem que resiste
ou
brinde em derradeiro gole
tudo aquilo que inventamos

: em dose letal
o nosso próprio veneno
que lateja goela abaixo
engasgando nossos silêncios


IACYR ANDERSON FREITAS — nasceu em Patrocínio do Muriaé, Minas Gerais, em 1963. Formado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Juiz de Fora, o poeta obteve também, pela mesma instituição, o título de mestre em Letras (área de concentração: Teoria da Literatura). Publicou diversos livros de poesia, ensaio literário e prosa de ficção, tendo recebido várias premiações no Brasil e no exterior.
Sua obra se encontra bastante divulgada em outras línguas e países (Argentina, Chile, Colômbia, Espanha, Estados Unidos, França, Itália, Malta e Portugal).
Além de colaborar intensamente com a imprensa brasileira, já publicou poemas e textos críticos em Arquitrave (Colômbia), Comun Presencia (Colômbia), Fokus (Malta), International Poetry Review (USA), Los rollos del mal muerto (Argentina), O comércio do Porto (Portugal), Private (Itália), Punto di vista (Itália), Ricerca research recherche (Itália), Rimbaud Revue (França), Saudade (Portugal), Semicerchio (Itália) e Serta (Espanha), entre outros.

A UMA FORMIGA

© IACIR ANDERSON FREITAS

Sei que cumpres teus anos
a cada minuto,
que não terás muito tempo
para o que de fato é o tempo
e suas recusas.

Vejo-te cruzar agora
o planalto de linho e trigo
que diante de mim
é uma simples mesa
mas em ti
assombra a eternidade
com suas frutas,
seus lençóis de pão e açúcar,
suas colheres de um leite
que lembra na carne
o paraíso.

És para mim
uma máquina sem sentido no mundo.

De tua boca
fogem talvez cometas absurdos,
constelações que têm no dorso
o nome de meus antepassados,
folhagens que não vi ou não provei, palavras
que ainda me chamam
da infância.

És o que não compreendo.
O que é extremo
feito o sinal de Deus
e não compreendo.

Tu continuas sobre a mesa.
O planalto de linho não se acaba,
indiferente a mim e a ti
nesta casa.

A minha presença, o meu assombro, nada
chegou ainda a teu corpo.
Tu tens talvez este resto de tarde
que não deixará um nome
na inconsciência
que te move.

Também eu
que te sei
não me salvo:
esse incêndio levará um dia
a tua lembrança
do meu sangue, levará a lembrança
de outros dias,
a memória do sangue
no meu sangue
e o mundo voltará à indiferença
que nos cerca.

Teu corpo vence enfim o beiral de linho
e desaparece comigo
no caos.


MÔNICA DE AQUINO — nasceu em Belo Horizonte, em 1979. Sístole, seu primeiro livro, foi lançado em junho de 2005 pela editora carioca Bem-te-vi, e faz parte da coleção Canto do Bem-te-vi. No mesmo ano, foi convidada para integrar a antologia O Achamento de Portugal, organizada pelo poeta Wilmar Silva e publicada pela Anome em parceria com a Fundação Camões. Participou, também, da antologia catalã Panamericana, poetas americanas nascidas a partir de 1976, organizada pelo poeta espanhol Joan Navarro e publicada na revista eletrônica sèrieAlfa em 2006. Já teve poemas publicados em páginas eletrônicas do Brasil e do exterior e em periódicos como o Suplemento Literário de Minas Gerais e a revista Poesia Sempre, da Biblioteca Nacional. Participou de vários eventos apresentando seus poemas, dentre eles O Terças Poéticas, realizado pela Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, a Primavera dos Livros em São Paulo e a Feira do Livro de Porto Alegre. Sua participação no projeto Terças Poéticas foi a estréia de um sarau acompanhado por percussão, e apresentado depois em outros eventos, e em bares e cafés.
Contato:
monicadeaquino@gmail.com

Sempre o mesmo movimento
sobre o lago de espelho

a mesma nota
de cor
a volta a esmo
ao redor de si
o mesmo si
lá sol –
giro agudo
corpo extremo.

São os teus dedos
que põem a bailarina
de pé
ao som do mínimo
ruído
do talvez.

A bailarina, não vês.
Os teus sentidos só sabem
o ventre da engrenagem.

Sob a túnica, a caixa
já desliza uma falha
no compasso bate-estaca
o sangue
urgente bate
escapa
e a bailarina
roda roda

O coração,
à corda
caixa de música
contra o espelho
caixa preta
ao avesso.

E a bailarina, esticada
roda e roda
e não anseia
senão
o fundo da caixa
uma noite aveludada.
A tampa fechada.

© MÔNICA AQUINO


BRASIGÓIS FELICIO — Brasigóis Felício Carneiro tem 36 livros publicados, entre obras de poesia, conto, crônica, romance e crítica literária. Presidiu a Ube-go (União Brasileira de Escritores, seção de Goiás) e ocupa a cadeira 25 da Academia Goiana de Letras. É detentor de dezenas de premiações literárias, e integra antologias de contos e poesias publicadas no Brasil e em outros países.
A fortuna crítica sobre sua produção literária inclui estudos em universidades, jornais e revistas especializados do Brasil e do exterior. Pertence à geração literária que emergiu em Goiás a partir da década de 1970. A antologia No Barco dos dias – 30 anos de navegação poética reúne alguns dos poemas que marcaram sua produção poética do período.
Hotel do tempo, livro de poemas lançado em 1982, pela Editora Civilização Brasileira, figura entre suas obras mais destacadas, sendo uma das obras do Cânone Literário da poesia brasileira feita em Goiás. Em 1983, durante o obscurantismo da ditadura militar, teve seu romance Diários de André censurado e apreendido por ordem do ex-Ministro da Justiça, Armando Falcão.


NUNCA NADA

© BRASIGOIS FELICIO

“Nunca dirija um carro
se estiver morto”.

Jamais o desloque
por ruas e estradas
se não estiver dentro
— aceso, dentro
de si mesmo,
como um incêndio.

Nunca fale
em tom solene e grave
estando certo
de que o tom não cabe.

Nunca esteja certo
de que sabe tudo
se não estiver certo
de que nada sabe.

Nunca diga pronto
se o Ser desperto
não está no ponto.

Nunca diga à sombra
que está despedida
sem pagar as contas

Nas idas e vindas
nunca siga alguém
que está perdido.