
LAURA ESTEVES é carioca, diversos livros publicados e integra o Grupo Poesia Simplesmente, que esteve pela terceira vez no Congresso Brasileiro de Poesia com espetáculos e recitais que encantaram o público. Em Bento Gonçalves já homenagearam o deus Baco, Mario Quintana e também a poesia circense, tornando-se uma atração permanente do evento.
© LAURA ESTEVES
Vai, Bandeirante,
navega pelas sujas águas do Tietê.
Já foram limpas, eu sei.
Segue pela Raposo Tavares.
Não te iludas pelas estradas,
confia em teus olhos:
são fábricas de esmeraldas,
edifícios de diamantes.
Guarda tudo em teu alforje de couro.
Adiante! Adiante!
Pega a Fernão Dias e toma o caminho do ouro.
Cuidado com o automóvel, Bandeirante.
Como tu, ele também mata.
Em seguida, o sul, sempre.
Busca o que restou da tribo guarani.
Lá, vestígios dos Sete Povos,
e, coitado de ti, o fantasma de Sepé Tiaraju.
Extermína-o, rápido!
Pois eu te afianço, velho Bandeirante,
ele não te dará descanso.
E, como antes, na catedral flutuante
— sina? destino? herança? —
o sino estará chamando o povo
para a missa de domingo.
Uma orquestra de crianças,
cabelos negros, escorridos,
estará tocando, à tua passagem,
tambores, liras, violinos.
O toque será um só:
vingança, vingança, vingança!