Ganhou prêmios importantes das principais instituições literárias e culturais do país, entre elas a Academia Brasileira de Letras, o Instituto Nacional do Livro, a Fundação Biblioteca Nacional, o Conselho Estadual de Cultura do Rio de Janeiro, a Fundação Cultural do Distrito Federal, a União Brasileira de Escritores, a Câmara Brasileira do Livro, a Fundação Catarinense de Cultura, academias de letras, secretarias e fundações de cultura estaduais e municipais, além de outras entidades em Portugal, no México e na Itália.
Tem poemas traduzidos para o sueco, o italiano, o espanhol, o francês, o corso, o galego, o persa e o macedônio. Foi incluído pela crítica entre os nomes mais expressivos da poesia brasileira contemporânea, que representou em festivais internacionais realizados na Suécia, na Macedônia, no Canadá e na Espanha.
Sua poesia vai do verso livre às mais rigorosas formas estróficas, métricas e rímicas, por ele recriadas e renovadas, em contínua experimentação, com apoio na paronomásia, na aliteração, na assonância, no enjambement, bem como em alusões intertextuais, associadas à paráfrase e à paródia. De acento ao mesmo tempo grave, envolvente, dramático, reflexivo e oral, esses poemas, com suas vozes, imagens e metáforas, têm profundo conteúdo humano e questionam o percurso existencial, em seu duplo mergulho na introspecção e na realidade concreta.
CANTO EM SI —1
© REYNALDO VALINHO ALVAREZ
Não busco outro caminho, cedo a calma
à angústia de lavrar no mesmo chão.
A pétrea consist6encia deste solo
não dissolve meu ânimo, enlouquece
o que dentro de mim mais alto grita.
Nesta lavoura, a mão é o instrumento
com que se abrir a terra e penetrá-la
para entregar-lhe o amor de uma semente
exposta ao tempo, a fungos e carunchos.
No arado não se pense, o chão se fecha
ao fio agudo e firme, assim a enxada
também se parte contra o solo duro
e apenas resta a ponta de meus dedos
para feri-lo, amá-lo e fecundá-lo.
A pá arranca o som ao solo rijo
e a nada mais que à concha, em cada mão,
suada, escalavrada e enegrecida,
feita de pele, carne, nervo e sangue,
cabem o esforço e a glória de lavrá-lo,
porto em que a terra é nau posta em abrigo.
A estas leiras, labrego, me transporto
a cada madrugada e delas volto
para comer, se existe, a cada noite,
o pão que elas não deram por ser bruto
o chão e fraca a mão que dele trata,
mas que insiste em cuidá-lo, porque o grão
é causa, muito mais que conseqüência.
(Canto em si e outros cantos, in A faca pelo fio, p.335)