POETAS DO BRASIL

Blog para divulgar poetas brasileiros e estrangeiros que têm participado das atividades do Congresso Brasileiro de Poesia, realizado anualmente na cidade de Bento Gonçalves/RS, sempre na primeira semana de outubro

quinta-feira, junho 07, 2007

Foto: Regina Lyra
REYNALDO VALINHO ALVAREZ — nasceu em 1931 na cidade do Rio de Janeiro, onde se formou em Letras Clássicas, Direito, Economia e Administração. Publicou dezessete livros de poesia, dois de ficção, dois de ensaio e quinze livros para crianças e adolescentes, além de participar de mais de trinta coletâneas de poemas, contos e ensaios, com outros autores, e de colaborar em numerosos jornais e revistas.
Ganhou prêmios importantes das principais instituições literárias e culturais do país, entre elas a Academia Brasileira de Letras, o Instituto Nacional do Livro, a Fundação Biblioteca Nacional, o Conselho Estadual de Cultura do Rio de Janeiro, a Fundação Cultural do Distrito Federal, a União Brasileira de Escritores, a Câmara Brasileira do Livro, a Fundação Catarinense de Cultura, academias de letras, secretarias e fundações de cultura estaduais e municipais, além de outras entidades em Portugal, no México e na Itália.
Tem poemas traduzidos para o sueco, o italiano, o espanhol, o francês, o corso, o galego, o persa e o macedônio. Foi incluído pela crítica entre os nomes mais expressivos da poesia brasileira contemporânea, que representou em festivais internacionais realizados na Suécia, na Macedônia, no Canadá e na Espanha.
Sua poesia vai do verso livre às mais rigorosas formas estróficas, métricas e rímicas, por ele recriadas e renovadas, em contínua experimentação, com apoio na paronomásia, na aliteração, na assonância, no enjambement, bem como em alusões intertextuais, associadas à paráfrase e à paródia. De acento ao mesmo tempo grave, envolvente, dramático, reflexivo e oral, esses poemas, com suas vozes, imagens e metáforas, têm profundo conteúdo humano e questionam o percurso existencial, em seu duplo mergulho na introspecção e na realidade concreta.



CANTO EM SI —1

© REYNALDO VALINHO ALVAREZ

Não busco outro caminho, cedo a calma
à angústia de lavrar no mesmo chão.

A pétrea consist6encia deste solo
não dissolve meu ânimo, enlouquece
o que dentro de mim mais alto grita.

Nesta lavoura, a mão é o instrumento
com que se abrir a terra e penetrá-la
para entregar-lhe o amor de uma semente
exposta ao tempo, a fungos e carunchos.

No arado não se pense, o chão se fecha
ao fio agudo e firme, assim a enxada
também se parte contra o solo duro
e apenas resta a ponta de meus dedos
para feri-lo, amá-lo e fecundá-lo.

A pá arranca o som ao solo rijo
e a nada mais que à concha, em cada mão,
suada, escalavrada e enegrecida,
feita de pele, carne, nervo e sangue,
cabem o esforço e a glória de lavrá-lo,
porto em que a terra é nau posta em abrigo.

A estas leiras, labrego, me transporto
a cada madrugada e delas volto
para comer, se existe, a cada noite,
o pão que elas não deram por ser bruto
o chão e fraca a mão que dele trata,
mas que insiste em cuidá-lo, porque o grão
é causa, muito mais que conseqüência.

(Canto em si e outros cantos, in A faca pelo fio, p.335)




INSCRIÇÕES PARA AS ANTOLOGIAS OFICIAIS
DO XV CONGRESSO BRASILEIRO
ENCERRAM-SE NO DIA 25 DE JUNHO




VOLUME 5
Coordenador: ARTUR GOMES
POETAS PARTICIPANTES:


Ademir Antonio Bacca • Aidenor Aires • Andrea Motta • Angela Carrocino • Angela Togeiro • Antonio Miranda • Artur Gomes • Célia Arantes • Chris Herrmann • Cláudia Gonçalves • Claufe Rodrigues • Débora Novaes de Castro • Deisi Perin • Ednilson de Paulo • Eguimr Chaveiro • Elizabeth Britto • Eunice Arruda • Geraldo Coelho Vaz • Gilberto Maha • Haidê Vieira Pigatto • Helena Ortiz • Hugo Pontes • Jiddu Saldanha • João Pedro Roriz • José Mendonça Teles • Juçara Valverde • Laura Esteves • Lourdes Sarmento • Marçal Filho • Maria da Glória Mariano • Mayra Coelho • Monica Montone • Nelson Figueiredo • Ney Caldeira • Oscar Bertholdo • Paola Caumo • Paulo Renato Rodrigues • Ricardo S. Reis • Rodolfo Muanis • Rodrigo Mebs • Rogério Santos • Ronaldo Werneck • Rossyr Berny • Rubens Venâncio • Sady Bianchin • Silvio Ribeiro de Castro • Suely de Freitas Martí • Telma da Costa • Therence Santiago • Tonho França •


VOLUME 6
Coordenador: ADEMIR ANTONIO BACCA
POETAS PARTICIPANTES:
Abílio Terra Júnior • Ademir Antonio Bacca • André Luis Gabriel • Antonio Carlos de Menezes • Áurea Miranda • Bella Clara Ventura • Benedita Azevedo • Benvinda Palma • Bernardethe G. Zardo • Carlos Gurgel • Célia Jardim • Christiane Donatto • Clevane Pessoa • Dani Baleeiro • Delasnieve Daspet • Eguimar Chaveiro • Fabiano Filippi Chiella • Fátima Borchert • Fernanda Frazão • Gloria Dávila • Henriques do Cerro Azul • Iára Pacini • Ieda Cavalheiro • Ilda Brasil • Irem Toal • Isnelda Weise • J J de Oliveira Gonçalves • Jane Brandão • Jane Pimentel • Janete Nodari Fracalossi • Jaqueline Saraiva • Jorge Linhaça • Joyce Lima Kirschke • Karla Leopoldino • Klycia Fontenelle • Ligia Leivas • Lu Oliveira • Magaly Grespan • Maria Angélica B. Santos • Maria Clara Bergoli • Maria Clara Segóbia • Marilu Duarte • Marisa Ly • Marlene Caminhoto Nassa • Nelson Fachinelli • Raquel Martinez • Remy de Araújo Soares • Roziner Guimarães • Sônia Maria Grillo • Suely de Freitas Martí • Suzete S. Sozinho • Val Bonfim • Val Rocha • Vanderley Caixe • Verluci Almeida • Walnélia Pederneiras •


GUILEM RODRIGUES DA SILVA — nasceu na cidade de Rio Grande, Rio Grande do Sul, numa primavera do século passado. É oficial reformado no posto de comandante (capitão-de-corveta) da Marinha do Brasil. Perseguido, foi obrigado a fugir do país, refugiando-se no Uruguai até novembro de 1966, quando transferiu-se para a Suécia, aonde chegou como o primeiro refugiado político da América Latina na Escandinávia. Em 1969, depois de estudos pré-universitários, matriculou-se na Universidade de Lund, Suécia, onde estudou línguas neo-latinas, completando seus estudos na Universidade de Estocolmo.
Em 1976, publicou seu primeiro livro na Suécia, escrito em espanhol e traduzido para o sueco por renomados poetas tais como Lasse Söderberg e Peter Ortman e tradutores como Jens Nordenhök e Estrid Tenggren. Atualmente escreve diretamente em sueco, sendo autor de vários livros de poesia e redator de antologias de poetas suecos e latinoamericanos. Seus poemas foram publicados em 32 antologias internacionais, entre essas a “Antologia Internacional Roda Mundo” de 2005, do Editor Douglas Lara. Publicou também um livro de ensino da língua portuguesa para suecos: “Portugisiska för Nybörjare” adotado pelas escolas de línguas na Suécia. Em 2002, publicou seu primeiro livro no Brasil “Saudade e uma canção desesperada”, prefaciado pelo poeta Reynaldo Valinho Álvarez, do Rio de Janeiro. Por ocasião do lançamento do livro no Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, foi agraciado com o título e o diploma de Membro de Honra do mesmo sindicato. Traduziu inúmeras peças de teatro, entre as quais a “Marquesa de Sade”, de autoria do famoso escritor japonês Yukio Mishima, para o Real Teatro Dramático de Estocolmo e vários filmes suecos para o Brasil e Portugal e filmes brasileiros para os cimemas suecos.
Seus poemas foram traduzidos para o islandês, dinamarquês, persa, espanhol, macedônio e inglês, tendo sido publicados no México, Cuba, Estados Unidos da América do Norte, Noruega, Dinamarca, e Islândia.
Guilem Rodrigues da Silva é presidente da Associacão de Escritores do Sul da Suécia (Escânia), membro do Sindicato dos Escritores da Suécia, da Associacão sueco-dinamarquesa de escritores, da Société Européenne de Culture em Vene-za.
É professor de línguas e ocupa o cargo de juiz eleito do Tribunal de Segunda Instância no Hovrätten över Skåne och Blekinge, Suécia.


CANÇÃO

© GUILEM RODRIGUES DA SILVA

Eu fujo contigo agora
Para as Terras do Sem Fim
Onde Dona Janaina
Princesa de Aiocá
busca todos os começos
e tece rede de espumas
para os que morrem no mar

Eu fujo contigo agora
E meu pensamento brinca
Meu pensamento sonha
Com a nudez do teu corpo
Meu pensamento sonha
Com o sonho de estar em ti

Eu fujo contigo agora
Para as Terras do Sem Fim
Lá onde Iemanjá
Tem uma rede já pronta
para os que morrem no mar

Eu fujo contigo agora
P´ra os prados da minha infância
P`ra o meu Rio Grande criança
Onde Dona Janaína
Princesa de Aiocá
Que tece redes de espuma
Tece vida
Tece morte
Para os que vivem no mar

Vou levar-te para a praia
Beijar tua boca
À sombras das dunas de areia
Enquanto Dona Janaina
Princesa de Aiocá
Tece uma rede de espumas
Para dormirmos no mar



GRAÇA CARPES — nasceu no sul do país na cidade de Rio Grande, lá onde o continente beija as águas geladas do mar. O movimento levou-a ao Rio de Janeiro — outro mar, lugar em que atualmente se encontra.
Poeta antes de tudo, brinca com o mundo fazendo artes.
É atriz e clown. Às vezes aventura-se nas artes plásticas, deliciando-se em cores e criação de formas.
Em tudo, vê a poesia!

APRENDENDO A SER GENTE

© GRAÇA CARPES

utilize o
sol
o mar
as chuvas
palavras e larvas de borboleta
as letras da palavra
a m o r
uma raspa de suco da dor – apenas
uma miligrama que é para não
travar a sensibilidade pois
over dose desse componente pode seriamente afetar a pessoa que a ingerir
com sintomático de respiração pesada e olhar
endurecido
utilize também um coração com janelas abertas ao
horizonte e busque o encontro com
outras gentes
exercite
as peles
as cores e as palavras que às vezes não compreende pois
para aprender a ser gente é necessário viver o
diferente com
diferentes gentes


ARICY CURVELLO — Considerado pela Crítica um dos melhores poetas de sua geração. Sob a ditadura militar (1964-1985), sofreu prisões e perseguições. Viveu em BH, no Rio, na Amazônia e na Europa. Reside no litoral do Espírito Santo. Correspondente no Brasil da revista literária lusa Anto (1997-2001), subsidiada pelo Ministério da Cultura de Portugal e pelo Instituto Português do Livro e das Bibliotecas. Sócio da União Brasileira de Escritores (São Paulo), da Casa do Escritor (São Roque/ SP) e do Instituto Histórico e Geográfico/ ES. Sócio fundador do Instituto de Artes, Cultura e Ciências do Triângulo, de Uberlândia (MG). Integra o Conselho Editorial de Literatura - Revista do Escritor Brasileiro. Livros de poesia publicados: “Os Dias Selvagens te Ensinam” (1979); “Vida Fu(n)Dida” (1982); “Mais que os Nomes do Nada” (1996); “O Acampamento” (em edições solo a partir de 2005); “50 Poemas escolhidos pelo Autor” (2007). A sair: “Menos que os Nomes de Tudo”. Em prosa : “Uilcon Pereira: no coração dos boatos” (2000), Prêmio Joaquim Norberto (Ensaios Publicados / Biografia) da UBE/RJ; “Anto: revista portuguesa de poesia” (2000) e “Uma Dimensão que não Termina” (2002). Integra importantes antologias nacionais, entre outras: “Brasília na Poesia Brasileira” (org. Joacyr de Oliveira, Brasília: INL; Rio: Ed.Cátedra, 1980); “A Poesia Mineira no Século XX” (org. Assis Brasil; Rio: Imago,1998). Incluído nas antologias da revista lusa Anto, do caderno francês de poesia Jalons e do jornal norte-americano Helicóptero. Em Portugal, integra três antologias internacionais. organizadas pelo poeta francês Jean-Paul Mestas (prof. da Sorbonne) e a “Antologia de Poetas Brasileiros” (org. por Mariazinha Congílio),todas quatro pela Universitária Editora, de Lisboa. Na Espanha, “Antologia de la Poesia Brasileña”, organizada pelo especialista Xosé Lois García, pela Laiovento. Na França,em tradução do Prof. Jean-Paul Mestas, “Le Campement / O Acampamento”, lançamento de Les Presses Littéraires. Verbete: Enciclopédia de Literatura Brasileira (Prof. Afrânio Coutinho, 1a.ed. 1990 e 2a. ed. 2001); Dicionário Biobibliográfico de Escritores Brasileiros Contemporâneos (Prof. Adrião J. Neto, 1998 e 1999).

O NÁUFRAGO

© ARICY CURVELLO

Os planos que malogram,
a fortuna que se rende,
o fado que tem olhos
de acaso e relógio,
pelo pesadelo a grande Barca abalroada,
três mil passageiros se paralisaram no terror da hora,
em plena noite, ao mar, na baía da Guanabara.
Alguns, das águas
recuperados. Um, não dos mais belos, porém dos mais
jovens,
fortes ventos e correntes o impeliram para fora
da barra, para as altas águas, o alto mar,
roído de peixes,
que humano já não era, incorporado
a medusas, a algas, ao
plenilúnio, às vagas, aos eflúvios do sal .
Agora, sua respiração percorre o litoral.



BÁRBARA LIA — paranaense, é professora de História e escritora. Publicou poemas no jornal Rascunho, Fenestra, Garatuja, Mulheres Emergentes, Revista Etcetera, Revista Coyote, Ontem choveu no futuro. Finalista do Prêmio Sesc de Literatura 2004, com o romance “Cereja & Blues” (inédito), e 2005, com o romance “Solidão Calcinada” (inédito).
Publicou os livros “O sorriso de Leonardo” (Kafka ed. 2.004), “Noir” (edição do autor, 2006). Tem no prelo “O sal das rosas” (Lumme editor) e “A última chuva” (ME - ed. Alternativas, MG, 2007).
Participou das primeiras edições do Congresso Brasileiro de Poesia, apresentada por Carlos Quadros, Marcelo Miguel e Jiddu Saldanha.

E-mail: barbaralia@gmail.com
Site:
www.chaparaasborboletas.blogspot.com

DIANTE DA JANELA, O ROSEIRAL

© BARBARA LIA

Testamento enterrado
à sombra do roseiral:
Deixo meu violão
para a balconista da padaria.
A erva benta
para a velha do sobrado.
A chaleira
que chia Villa-Lobos
para Frei Gustavo,
que costura almas
nas manhãs de quarta.
O livro de poesia
de Augusto dos Anjos,
para o cobrador do expresso 022.

Assinado:A menina dos olhos tristes.
Chico me chamava de Carolina,
mas era só um disfarce.
Sou eu a menina
que viu o tempo passar na janela,
sem ver.

(“O sal das rosas”, Lumme Editor, 2006)