CARLOS GURGEL — sou artista. porque a vida me chama. como um barco que veleja por entre parágrafos e passárgadas. como peça. um anzol. uma promessa se enrodilhando na tábua de mares do rio que corta a cidade. nasci na cidade que briga com o sol. faróis e latrinas. latidos. tetos cascudianos. e meu pai fiando uma bondade como a fala do povo que se veste de noite, e vai para o meio dos retalhos que as suas faces suplicam. escrevo. para não morrer. falo. por volver. uma busca. uma bússola que se lança como gente surrupiando lentes, imagens e sombras. natal nos natais. cantigas nos quintais. uma esmola verbal? um curativo de f(r)ases que vai eletroentrechocando-se na lembrança de que tudo se espatifa. patifaria de verbos e putaria de esgotos. quadrilha que ladra e afana o afeto das pessoas pobres e corriqueiras. frases como uma crase grave que acusa a revolta da página em branco. vômito de sombras, como um volume de poesia que não escuta correção e coração.
uma ruma de sinais. gravetos e desobediência lingual. uma licença pedida entre uma palavra e outra. um lavoura de idéias e boleias carregadas de pára-choques e descobertas. uma coleta de lixo e léxico. como a diáspora de um vapor que pula letras, e ensaia a fala da rua, encorpada pelo eixo de uma multidão de pontos finais. o mundo, parceiro, é uma deselegância de costumes. o que verdura, são as mãos femininas enrodilhadas de tanto querer.
uma ruma de sinais. gravetos e desobediência lingual. uma licença pedida entre uma palavra e outra. um lavoura de idéias e boleias carregadas de pára-choques e descobertas. uma coleta de lixo e léxico. como a diáspora de um vapor que pula letras, e ensaia a fala da rua, encorpada pelo eixo de uma multidão de pontos finais. o mundo, parceiro, é uma deselegância de costumes. o que verdura, são as mãos femininas enrodilhadas de tanto querer.
BENDITO É O FRUTO
© CARLOS GURGEL
uma sinfônica cama
sem escrituras
partituras
esquadrias
só você e sua sincronia
minha cura
como eixo que me arde
mesmo mel
o teu véu
osso, caule, flora
poço
como vinho
que me mele
como troça que se vele
como poça que se rele
uma bruma, uma ruma
um gole, uma gola
que rouca rola
viela, bagulho
como tranço, barco
como vela, lanço, o teu beijo
remanso, o teu arco
lança, eu te vejo
o teu corpo me alcança
descansa:
o que você faz na minha janela?
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