POETAS DO BRASIL

Blog para divulgar poetas brasileiros e estrangeiros que têm participado das atividades do Congresso Brasileiro de Poesia, realizado anualmente na cidade de Bento Gonçalves/RS, sempre na primeira semana de outubro

segunda-feira, março 29, 2010

RÉGIS ANTONIO COIMBRA — Nascido em 1968, em Porto Alegre, tenho umbigo. Hei de perecer nos próximos 39 anos. Nos próximos 1.000 não me restarei sequer registrado em fragmento. Se - apesar de muito - algum restar, não saberão citar nem recitar. Cursei Filosofia e Direito. Formei-me muito à custa da fraternidade imposta ao contribuinte. O estado concentrou renda em mim, que dissipo esperanças em ilusões. Fui criança na infância. Adolescente por muito tempo. Fui soldado no exército, onde fui guarda, varredor e estivador. Fui paciente e depois fui psicanalista; bolsista do CNPq, despachante, pintor e músico. Sou filósofo, advogado e mico-empresário. Ainda ontem (há pouco) escrevi cinco poemas; já hoje, mais um e esta vaidade que lês. Meu tema é minha condição finita... aliás, tua também. A morte cada vez mais próxima, reiterada na mesquinhez nossa (ou pelo menos minha) do quotidiano que me faz oscilar entre não querer morrer e duvidar que possa suportar mais 5 minutos disso tudo ou tão pouco. De modo geral e preocupante, sou das mais felizes pessoas que jamais viveram.

CURVA DESCENDENTE

© RÉGIS ANTONIO COIMBRA

Conquanto em média nem se chegue a tanto
o quadragésimo aniversário marca o início da última
metade de vida, fruição, agonia ou ranço

Alternativas, todas, verdadeiras desse
polissêmico fim no horizonte: horror, alívio
desespero, ilusão; impasse, solução; etc

Dos incertos próximos quarenta anos, espero que me sejam
leves, saudáveis, relevantes e produtivos
ainda é muito e demais, justo na metade final
(e descendente?)
mas bem menos do que esperava no décimo oitavo

Nisso, talvez, parte da razão da curva ascendente de minha
satisfação com a vida que me tem levado ou comportado
Esperar ou cobrar menos, fruindo mais ou sofrendo menos
o que me cabe ou por vezes transborda

Principalmente espero volta e meia extrapolar até o fim
em lugar de me fisicamente prolongar além
do esgotamento moral, mental e desejante

Se o fim não me vier heróico ou ao menos súbito
que me sobrem forças para eu me dar descarga!
Ou até essa penúltima vaidade hei de superar ou perder?

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Adorei.

10:59 PM  

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