RÉGIS ANTONIO COIMBRA — Nascido em 1968, em Porto Alegre, tenho umbigo. Hei de perecer nos próximos 39 anos. Nos próximos 1.000 não me restarei sequer registrado em fragmento. Se - apesar de muito - algum restar, não saberão citar nem recitar. Cursei Filosofia e Direito. Formei-me muito à custa da fraternidade imposta ao contribuinte. O estado concentrou renda em mim, que dissipo esperanças em ilusões. Fui criança na infância. Adolescente por muito tempo. Fui soldado no exército, onde fui guarda, varredor e estivador. Fui paciente e depois fui psicanalista; bolsista do CNPq, despachante, pintor e músico. Sou filósofo, advogado e mico-empresário. Ainda ontem (há pouco) escrevi cinco poemas; já hoje, mais um e esta vaidade que lês. Meu tema é minha condição finita... aliás, tua também. A morte cada vez mais próxima, reiterada na mesquinhez nossa (ou pelo menos minha) do quotidiano que me faz oscilar entre não querer morrer e duvidar que possa suportar mais 5 minutos disso tudo ou tão pouco. De modo geral e preocupante, sou das mais felizes pessoas que jamais viveram.
CURVA DESCENDENTE
© RÉGIS ANTONIO COIMBRA
Conquanto em média nem se chegue a tanto
o quadragésimo aniversário marca o início da última
metade de vida, fruição, agonia ou ranço
Alternativas, todas, verdadeiras desse
polissêmico fim no horizonte: horror, alívio
desespero, ilusão; impasse, solução; etc
Dos incertos próximos quarenta anos, espero que me sejam
leves, saudáveis, relevantes e produtivos
ainda é muito e demais, justo na metade final
(e descendente?)
mas bem menos do que esperava no décimo oitavo
Nisso, talvez, parte da razão da curva ascendente de minha
satisfação com a vida que me tem levado ou comportado
Esperar ou cobrar menos, fruindo mais ou sofrendo menos
o que me cabe ou por vezes transborda
Principalmente espero volta e meia extrapolar até o fim
em lugar de me fisicamente prolongar além
do esgotamento moral, mental e desejante
Se o fim não me vier heróico ou ao menos súbito
que me sobrem forças para eu me dar descarga!
Ou até essa penúltima vaidade hei de superar ou perder?
1 Comentários:
Adorei.
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