WANDA MONTEIRO — Sou Amazônida, fruto do encontro de Amantes.Vim da seiva quente de Benedicto Monteiro, um Poeta e Pescador de Sonhos, semente plantada no templo sagrado e fértil de Wanda, Mulher Guerreira, Mãe na mais pura definição. Uma maternidade vivida e sofrida, deixando rastro de coragem por onde passava, por onde plantava, por onde colhia e alimentava. Cheguei no Outono, nascendo às margens de um Igarapé, veia d!água do rio Tapajós. Nasci na hora do crepúsculo, contemplada pelo Sol. Fui banhada e batizada em águas amazônicas. Aprendi a respirar Água, a ouvir a voz do Vento, a sentir o cheiro da Chuva, a nadar na malha de Mururés. Me encantei com a voz da Mata. Fui seduzida pelo olhar da Restinga. Me vesti de Terra, bebi o Rio, cresci e verdejei. Sob o signo da Mãe Natureza, visto ambivalência!.
Sigo, transitando na fronteira entre a impassividade da razão que me atordoa, que me distancia, que me confina, que me objeta e me e a emoção que me testemunha, me aproxima, que me explica, que me intui e me confere o ideal do existir. Quando Terra, sou viajante de caminhar frêmito e errante. Quando Água, sou navegante. Um navegar de espanto, decifrando labirintos liquefeitos de paisagens, de memórias, de fantasmas. Quando Mãe, sou senhora de uma existência plural onde vivo a vida de Marcelo, André e Aline, meus filhos, meus pedaços de verdadeiro amor.
Hoje, com mais de meio século de vida, sigo, ora emersa ora submersa, no olho d’água do Rio que contemplo e que levo, correndo sob meus pés. Escrever! Esta é minha sina. Costurar películas de vida vivida, sofrida e sonhada. Deixando um rastro de poesia como testemunho de Mim.
ESCOMBROS
© WANDA MONTEIRO
A madrugada
Já não me é mais doce
A madrugada
Já não me é mais morna
A madrugada
Já não me afaga como brisa
A madrugada
Gélida
Singra–me
Vara-me
Parte-me
Deixando-me em ruínas
A madrugada
Já não me é contemplação
A madrugada
Agora
Contempla meus escombros
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O Fanzine Episódio Cultural é uma publicação bimestral (Machado-MG/Brasil) sem fins lucrativos distribuído gratuitamente em várias instituições culturais. De acordo com o editor e poeta mineiro Carlos Roberto de Souza (Agamenon Troyan), “o objetivo é oferecer um espaço gratuito para que escritores, poetas, atores, dramaturgos, artistas plásticos, músicos, jornalistas... possam divulgar a sua arte”.
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